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Seminário aponta a representação da mulher na História Moderna e o papel dos meios de comunicação na abordagem da violência de gênero


Por Ascom em 25 de outubro de 2017

As diversas representações da mulher ao longo da história do ocidente moderno e a responsabilidade social dos meios de comunicação na abordagem dada às questões da violência de gênero no país, foram os principais temas apresentados no seminário “Revitimização da mulher na mídia”.

O encontro aconteceu no dia 23 de outubro, com as palestras: “A História da imagem da mulher no Ocidente”, com a professora doutora em Sociologia, Isabelle Anchieta e “O papel das mídias nos processos de Revitimização e culpabilização das vítimas de violência de gênero – algumas estratégias para um melhor tratamento informativo”, com a professora doutora em Jornalismo, Maria Badet.

Realizado pela Escola Superior da Defensoria Pública (Esdep-MG), a proposta teve como objetivo discutir a culpabilização da mulher vítima de violência de gênero pelos meios de comunicação. A iniciativa partiu da Defensoria Especializada na Defesa da Mulher em Situação de Violência (Nudem-BH), após as discussões realizadas na Comissão de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, do Colégio Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege) sobre casos de assédio sexual retratados pela mídia nacional.

Com a plateia formada em sua maioria por mulheres, o seminário contou com a presença da diretora da Esdep-MG, Hellen Caires Teixeira Brandão, da coordenadora da Defensoria Especializada na Defesa da Mulher em Situação de Violência (Nudem-BH), Maria Cecilia Pinto e Oliveira e das defensoras públicas Samantha Vilarinho Mello Alves, Lívia Linhares Ribeiro e Carolina Morishita Mota Ferreira.

Coordenadora da Defensoria Especializada na Defesa da Mulher em Situação de Violência (Nudem-BH), Maria Cecilia Pinto e Oliveira; diretora da Esdep-MG, Hellen Caires Teixeira Brandão; palestrantes Isabelle Anchieta e Maria Badet; defensoras públicas Lívia Linhares Ribeiro e Samantha Vilarinho Mello Alves

Construção da imagem da mulher

A partir de símbolos iconográficos que retratam a mulher do século III ao século XX, a professora doutora Isabelle Anchieta apresentou as transformações pela qual a construção da imagem da mulher foi sendo estereotipada. “Ao longo de 17 séculos, a representação das mulheres foi sendo condicionada aos lugares e interesses de cada época, passando de uma imagem diabolizada para idealizada, usando várias estereotipias como bruxas, Maria, Maria Madalena e as estrelas do cinema hollywoodiano”, pontuou.

Professora doutora Isabelle Anchieta

Isabelle Anchieta disse que a maneira de se representar a mulher é fundamental para o modo com ela se vê, vê os outros e se relaciona com o mundo. A professora enfatizou que esta representação tem consequências na vida prática. “A importância de se discutir a revitimização está, principalmente, na forma como a sociedade valida a violência e a institucionaliza no plano simbólico, dando a ela, inclusive, o poder de organizar a vida social. A perspectiva, então, é pensar o caminho da humanização e da individualização da mulher, fora dos estereótipos idealizados”, explicou.

A professora de Sociologia explicou, ainda, que mesmo não estando livre da estereotipagem, em relação à história da humanidade, a imagem feminina avançou bastante. “Se pensarmos em um contexto onde Maria e a ideia de virgindade eram capital simbólico para determinar o lugar da mulher na sociedade – e como já rompemos com este e uma série de mitos, mesmo que outros tenham sido criados –, é preciso superar a discussão do gênero. Quando o gênero não for mais o centro da questão e sim o mérito pelo que é produzido, aí sim, chegaremos a algum lugar”, concluiu.

Gênero e comunicação

Na palestra “O papel das mídias nos processos de revitimização e culpabilização das vítimas de violência de gênero – algumas estratégias para um melhor tratamento informativo”, a professora doutora em Jornalismo, Maria Badet, teceu ponderações sobre o papel desempenhado pelos meios de comunicação nas questões de violência de gênero e feminicídio no Brasil.

Professora doutora Maria Badet

De acordo com ela, é responsabilidade social da mídia pensar sobre a temática e contribuir para a redução do número de casos relacionados à violência de gênero em nosso país. “Infelizmente, ainda hoje, os meios de comunicação exercem um papel negativo na cobertura midiática dos temas relacionados à violência de gênero. Grande parte das notícias tendem à culpabilização das vítimas, seguida de sua revitimização e ainda, na romantização do agressor”, explicou, apresentando histórias concretas que foram objeto de cobertura da Imprensa nacional, nos últimos anos.

Para a professora de Jornalismo, nos últimos quatro anos a mídia tem demonstrado uma pequena mudança na forma de abordar o tema, motivada, principalmente, pela pressão social. “Além disso, as mídias alternativas têm contribuído para que as mídias hegemônicas mudem o tratamento informativo acerca do tema. Hoje, temos notícias que visam, muito mais, o empoderamento feminino e a visibilidade da problemática de gênero”, completou. A professora apresentou exemplos atuais de situações que obrigaram a grande mídia a mudar o enfoque da informação, motivada pela pressão social.

Maria Badet falou, também, sobre a importância da abordagem da lei Maria da Penha, da contextualização da situação da violência de gênero, dos mecanismos desta violência e de sua manutenção. “Apesar deste enfoque começar a ser mais presente nos meios de comunicação, ainda falta muito para ser feito nesta linha de abordagem”, ressaltou. A professora apresentou exemplos.

A partir de estudos de manuais de tratamento informativo do Brasil e do exterior, a professora apresentou dicas tanto para os jornalistas, em relação ao melhor tratamento da notícia, quanto para as fontes, “para que, em entrevistas, saibam fornecer informações que ajudem ao profissional da mídia produzir uma matéria mais contextualizada na violência de gênero”, completou Maria Badet.

A jornalista disse, ainda, que a Europa e os Estados Unidos estão bem à frente do Brasil em relação ao tratamento de notícias desta natureza. “A Assembleia Mundial da ONU possui uma diretriz que se produzam materiais deontológicos para tratar a problemática do gênero nos meios de comunicação. Nestes lugares, a notícia vem acompanhada de um tratamento de caráter mais informativo”, explicou.

Após a apresentação das palestrantes, a diretora da Escola Superior (Esdep), Hellen Caires Teixeira Brandão, fez uma análise sobre a discussão do tema. Para a defensora pública ficou claro que a construção da imagem é importante e perigosa. “Vimos que desde a Idade Média a representação da mulher era pensada para atender as necessidades de determinados grupos. Hoje já evoluímos muito, mas ainda temos muito a melhorar”, ressaltou.

Diretora da Esdep, Hellen Caires Brandão

Hellen Caires disse ainda, que a questão da violência de gênero passa pelas questões culturais e históricas de uma sociedade fundamentada no patriarcado. “Porém, as pessoas estabelecem uma zona de conforto e usam, como justificativa para a violência, a cultura machista que ainda impera em nossa sociedade”, finalizou.

A coordenadora da Defensoria Especializada na Defesa da Mulher em Situação de Violência (Nudem-BH), Maria Cecilia Pinto e Oliveira, ressaltou a importância de se apresentar as diversas mudanças na representação do feminino ao longo dos anos e o poder da imagem na determinação do conceito da mulher, de santa à desumana.

Maria Cecília Oliveira destacou também, o poder da mídia como aliada no combate à violência de gênero, lembrando que uma análise tendenciosa pode contribuir de forma negativa. “O papel do jornalista é dar a informação e não tentar formar a opinião do leitor para uma ou outra posição”, disse.

Coordenadora da Defensoria Especializada na Defesa da Mulher em Situação de Violência (Nudem-BH), Maria Cecilia Pinto e Oliveira



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