Escola Superior da DPMG promove roda de conversa sobre cuidado em liberdade e fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial
A Defensoria Pública de Minas Gerais, por meio da sua Escola Superior, em comemoração ao mês da Defensoria Pública, promoveu na manhã desta quinta-feira (28/5) a roda de conversa “O Cuidado em Liberdade e o Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial”.

Objetivo do evento e temas abordados
O evento demonstrou a importância do cuidado em liberdade e do fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial no acolhimento das pessoas com deficiência psicossocial, reforçando o compromisso institucional com os direitos humanos e a saúde mental.
Como palestrante, a roda de conversas contou com a participação da psiquiatra e doutora em Filosofia, Ana Marta Lobosque, com a palestra “Redes de Atenção Psicossocial: O Cuidado como Direito”; e da auditora fiscal do trabalho Patrícia Siqueira, que abordará o tema “Possibilidades de Trabalho para Pessoas com Transtornos Mentais”.


Evento destaca importância do cuidado em liberdade e da Rede de Atenção Psicossocial
O coordenador da Coordenadoria Estratégica de Promoção e Defesa da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência (CEPIPED), da DPMG, defensor público Luis Renato Braga Arêas Pinheiro, mediou a roda de conversas e ressaltou a importância do cuidado em liberdade e do fortalecimento da Rede Psicossocial no acolhimento as pessoas com deficiência psicossocial.
O evento contou com ampla participação das pessoas presentes, tendo sido tirados vários encaminhamentos para atuação da CEPIPED – DPMG e da Rede de Proteção da Pessoa com Deficiência das Instituições do Sistema de Justiça de Minas Gerais (Rede de Proteção Inclusão Verde Mundo).

Outra mediadora do encontro, a psicóloga da Defensoria Pública de Minas Gerais, Jéssica Fernanda Rodrigues Lima, reforçou que o intuito do encontro foi tratar sobre saúde mental e atenção psicossocial, principalmente falar dos avanços da reforma psiquiátrica, da luta Antimanicomial, do cuidado em liberdade pela preservação dos direitos humanos.

Palestras abordam direitos humanos e inclusão no trabalho
Em sua fala inicial, Ana Marta Lobosque detalhou a escolha do título e afirmou não se tratar de uma discussão técnica, mas sim a defesa dos direitos. “Eu acho que, quando pensei nesse título ‘Cuidado como Direito’, isso, logo de início, nos coloca diante de uma questão importante, um ponto de reflexão. Não se trata, aqui, de uma discussão meramente técnica. Cada um de nós tem sua função técnica, seus conhecimentos na área, e podemos partilhá-los quando for o caso — não há nenhum problema quanto a isso. Mas, sobretudo, o que nos reúne nesta ocasião é uma questão ético-política: a defesa de direitos”, frisou.
“Se entendemos o cuidado como um direito — como, de fato, deve ser entendido —, então também precisamos compreender que só merecem o nome de ‘cuidado’ aquelas práticas, aquelas intervenções, que respeitam os direitos das pessoas, os direitos humanos e os direitos de cidadania”, continuou Ana Marta.
Patrícia Siqueira compartilhou a experiência da Superintendência Regional do Trabalho na inclusão de pessoas com transtornos mentais no mercado formal de trabalho. Ela destacou que o trabalho é uma forma de cuidado em liberdade. Segundo a auditora, pessoas com transtornos mentais passaram a ser consideradas pessoas com deficiência no Brasil após 2009, seguindo a Convenção da ONU, o que lhes dá acesso a políticas públicas, incluindo as cotas para pessoas com deficiência em empresas com 100 ou mais empregados.
Patrícia apresentou um projeto exitoso em Belo Horizonte, com 11 anos de existência, que utiliza a aprendizagem profissional (que não exige idade máxima ou escolaridade mínima para pessoas com deficiência) como ferramenta de inclusão. O projeto funciona em rede, com parceria entre a Superintendência do Trabalho, RAPS (Centros de Convivência), Hospital das Clínicas, SENAC e diversas empresas.
Relato pessoal
Ainda durante o encontro, Leandro, um dos participantes fez questão de compartilhar um breve relato da sua trajetória, trazendo uma reflexão sensível e contundente sobre sua vivência com o sofrimento mental. Ele destacou que convive com transtorno esquizoafetivo e que, ao longo da vida, enfrentou diversos desafios, incluindo episódios de internação, perda de vínculos familiares, emprego e patrimônio.
Relatou que foi submetido, na rede privada, a 17 sessões de eletroconvulsoterapia, o que lhe causou sequelas, sobretudo perda de memória. Ao mencionar esse episódio, foi enfático ao afirmar: “Perdi um pedaço da minha história levando choque na cabeça.”
Compartilhou também sua mudança de percepção em relação ao cuidado em saúde mental, afirmando que sua reconstrução pessoal só foi possível graças ao tratamento em liberdade, garantido pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). “Se hoje estou aqui falando para vocês é porque o cuidado em liberdade funciona”. Por fim, reforçou que o desejo de quem vive essa realidade é simples e legítimo. “O que a gente quer é respeito, é ter nossos direitos garantidos e ocupar nosso espaço na sociedade.”

Clique aqui para assistir ao evento na íntegra.
Mateus Felipe – Jornalista/DPMG.