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Comemorações do mês do servidor da DPMG começam com palestra sobre performance harmoniosa


Por Ascom em 9 de outubro de 2017

“A Defensoria Pública, no grande sertão de muita gente, é uma vereda”. Foi assim que o filósofo Mario Sergio Cortella definiu o trabalho da Instituição durante a palestra “Hexavalores para uma performance harmoniosa”, realizada pela Escola Superior da Defensoria Pública, na sexta-feira, 06 de outubro, na Associação Mineira do Ministério Público, em comemoração ao início das atividades do mês do Servidor da Defensoria Pública de Minas Gerais.

Mario Cortella ressaltou que a Defensoria Pública tem uma missão de peso frente à sociedade, fazendo com que os excluídos tomem assento com abundância. “Vocês são funcionários públicos, mas mais do que isso, são servidores que têm a função de impedir a desonra de homens e mulheres deste país de se assentarem na beira da democracia”.

Professor e filósofo Mario Sergio Cortella

Ao utilizar o significado das palavras comemorar e celebrar, Mario Cortella afirmou que é preciso tornar célebre o trabalho de pessoas que se dedicam a cuidar da vida, do patrimônio coletivo, dos direitos difusos, do ambiente, da capacidade de existência, principalmente daqueles fragilizados e prejudicados no dia a dia de sua vida. “O grande sertão é o lugar do abandono, o lugar onde o sujeito está sozinho. Mas o grande sertão tem veredas, isto é, tem para onde sair e a Defensoria Pública, no grande sertão de muita gente, é uma vereda”, explicou.

Ao citar exemplos do cotidiano, Mario Sergio Cortella, apresentou seis valores – equilíbrio vital, integridade pessoal, generosidade mental, honestidade moral, humildade mental e persistência focal –, cujo objetivo resulta em uma performance harmoniosa, na qual não há o desperdício nos propósitos de cada um.

Defensores e servidores da Defensoria Pública de Minas Gerais

Em relação ao papel do servidor público, o filósofo afirmou que a tarefa do poder é servir e não se servir. “Todo poder que serve a si mesmo, não serve”, exclamou. “Por isso que é uma honra – continuou ele – estar diante de homens e mulheres, sejam atuantes da área finalista ou da área meio, que sabem que precisam fazer do poder um serviço e não um autosserviço”.

O palestrante destacou, ainda, que a performance de uma vida harmoniosa está conectada à ideia de servidores que sirvam. “E isso exige dedicação, competência, persistência e inteligência, mas acima de tudo, uma formação continuada para fazer melhor aquilo que tem que fazer”, disse ressaltando a importância da Escola da Defensoria Pública, “decisiva para que saibamos fazer melhor, desenvolvendo nossa competência para fazer o que deve ser feito”, completou.

Para a defensora pública Flávia Marcelle Torres Ferreira de Morais, “foi uma manhã extraordinária! A Escola Superior da Defensoria Pública nos deu a oportunidade de escutar o dr. Marcio Sergio Cortella falar, com muita propriedade e sensibilidade, sobre a nossa Instituição, a nossa Defensoria!  Diante das tantas dificuldades que os defensores públicos e servidores encontram no seu dia a dia, escutar que podemos ser a vereda para o cidadão solitário no seu grande sertão, acalentou nossos corações e nos fortaleceu para continuarmos na luta diária, pois o nosso propósito de existir é muito nobre, belo e importante! Afinal, nas palavras do dr. Mario Sergio Cortella, somos, muitas vezes, a esperança de um povo que não está acostumado nem a sentar, nem a viver com abundância!”

A superintendente de Gestão de Pessoas e Saúde Ocupacional, Carla Carvalho, destacou a oportunidade de reflexão e união do momento.  “O professor Mario Sergio Cortella dispensa apresentações e sua participação, especialmente em comemoração ao mês do servidor, foi um  presente para a todos nós servidores, indistintamente de vínculo. O momento uniu defensores e servidores, em reflexões sobre o sentido do trabalho e do papel da Defensoria Pública, ‘veredas em um grande sertão’ ”. Para a superintendente, “é importantíssimo que eventos deste porte aconteçam com mais frequência, pois é latente a necessidade de construção de identidade organizacional, de pertencimento, não importando se é defensor, servidor da Instituição ou não, terceirizados e estagiários. A Instituição é una e o sentimento que nos move deve ser o mesmo, “servir”. Pertencermos a uma Instituição que é um diferencial na vida do cidadão carente.”

Sessão de autógrafos após a palestra

Abertura

Na abertura dos trabalhos, a diretora da Escola Superior da Defensoria Pública, Hellen Caires Teixeira Brandão, representando o defensor público-geral, em exercício, Wagner Geraldo Ramalho Lima, deu as boas-vindas, agradeceu a presença do palestrante, “sonho antigo desta gestão que acontece em um momento especial, em que a Escola Superior dá seus primeiros passos, e a Instituição passa por importantes reestruturações”, ressaltou.

Diretora da Esdep-MG, Hellen Caires Teixeira Brandão

Sobre a comemoração do mês do servidor, Hellen Caires falou sobre a importância daqueles que dedicam a vida a um trabalho para servir à população. “A Defensoria Pública passa por mudanças e, muitas conquistas só vieram porque todos nós lutamos com muita dedicação e paixão pela defesa do cidadão carente. Seja na área finalística, seja na área meio, somos responsáveis pelo crescimento da Defensoria Pública”, disse.

Em seguida, a assessora de Planejamento e Infraestrutura, Roberta de Mesquita Ribeiro, falou sobre a importância de iniciativa que promovam a integração entre defensores públicos e servidores, “porque temos que estar unidos para realizarmos nossa missão de promover o verdadeiro acesso à Justiça, de maneira integral e gratuita, com um trabalho de eficiência, de atendimento e de acolhimento do cidadão e, para isso, precisamos de capacitação constante das pessoas que aqui atuam”, destacou.

Assessora de Planejamento e Infraestrutura, Roberta de Mesquita Ribeiro

Entrevista com Mario Sergio Cortella

Suas palestras são focadas, principalmente, na ética das relações pessoais e corporativas. Gostaria que o senhor traçasse um paralelo entre a ética pessoal e a ética profissional. É possível dizer que a ética profissional deriva da pessoal ou, em termos corporativos, o indivíduo é obrigado a abrir mão de seus valores pessoais?

M.C. Uma pessoa que imagina possuir uma ética pessoal e uma ética profissional, certamente sofre de esquizofrenia ética. Afinal de contas eu sou uma única pessoa com várias faces. Por isso, se houver colisão entre aquilo que o indivíduo tem como ética e aquilo que preciso ter na profissão, que também, faz parte da sua vida pessoal, é preciso que ele entenda que está vivendo uma contradição. Nesse sentido, se houver uma cisão entre convicção pessoal e o necessário para o campo profissional, é preciso que este indivíduo pense se está com a convicção correta ou na profissão errada.

Em rápidas palavras, peço que defina performance harmoniosa e qual a relação entre esta performance e valores? Por que o senhor elege seis valores e quais são eles?

M.C. Temos vários valores que podemos utilizar para uma vida harmônica. Ou seja, uma vida onde não haja um desequilíbrio que cause transtornos permanentes. Não que a vida seja isenta de desequilíbrios, porém, estes não podem ser contínuos, persistentes nem permanentes. Temos que ter o desequilíbrio do dia a dia, com as turbulências e as dificuldades, mas que se rearmonizam na convivência, levando a uma vida na qual há circunstâncias de paz.

Foram escolhidos seis valores, sendo três ligados à conduta ética e três relacionados à capacidade de partilha na vida. Os três primeiros são equilíbrio vital, integridade pessoal e claro, honestidade moral. Os outros três, com partilha de vida: generosidade mental, humildade intelectual e persistência focal.

Nesse sentido, uma performance harmoniosa é aquela na qual, entendemos que não há desperdício de propósitos. Ou seja, uma vida consciente onde temos nitidez do que é preciso ser feito e qual é nossa tarefa.

Os seis valores, mas poderiam adendar outros, servem para ligar, com equilíbrio, os três referentes à conduta aos três que tratam da partilha de vida do indivíduo.

Qual o ponto de partida para se adquirir tais valores?

M.C. Os valores são desenvolvidos a partir da convicção sobre o que você deseja da sua existência. Aparício Torelli dizia que a única coisa que você leva dessa vida é a vida que você leva. A escolha é tua. A vida é feita de escolhas. Se você escolhe uma vida desencontrada entre aquilo que você acredita e aquilo que você faz, entre aquilo que prega e aquilo que você desenvolve, essa é uma escolha.

Há pessoas que decidem não serem autênticas, – no grego antigo, que coincide consigo mesmo. Se sou o que sou, e não o que aparento, digo ou faço, mas se sou de fato aquilo, a minha escolha será por valores que ajudam a proteger isso. Por isso, o primeiro passo é decidir o que eu desejo: a autenticidade ou a simulação, aquilo que pareço, porque de fato o sou; ou apenas uma representação social para que eu possa fingir ou dissimular aquilo que de fato não penso, mas que acabo praticando para que me aceitem. É uma escolha entre ser autêntico ou não, assim como ser patife ou não.

Qual seria a forma mais produtiva de entender os problemas éticos reais, valores incondicionais ou prudência prática?

M.C. As duas não podem se afastar. A vida seria como algo que vai sendo construída por jurisprudência, para usar um termo comum aos operadores de direito. A vida é jurisprudência, porque ela não tem rascunho, e não tem nada que seja eterno e persistente o tempo todo. Coisas que há 20 anos não teríamos em nosso horizonte ético, como por exemplo, a ideia de assédio moral ou até mesmo a percepção de assédio sexual. Bullying, por exemplo, era restrito a sala de aula, não havia ferramentas, como o mundo digital, por exemplo, para hiperdimensionar qualquer tipo de humilhação. Mas estes são tempos históricos, não que por isso vale tudo, mas vale no seu tempo, no seu momento. A questão é que não há uma coincidência direta entre direito e justiça. Há 130 anos a escravatura estava dentro da lei, com todo o aparelho da justiça cuidando para que essa lei fosse cumprida, mas não era justo. Por isso, é preciso que a gente seja capaz de entender quais são as diferenças de tempos, de épocas e convicções que se tem na atividade ética.

Pensando nas tendências conservadoras que vemos no cotidiano social hoje, é possível encontrar, na tradição da filosofia, elementos que ajudem os indivíduos se posicionarem bem diante das perspectivas nebulosas e desafiadoras da próxima década?

M.C. Sim. Porque a Filosofia nos ajuda a pensar. A Filosofia, como diria Neidson Rodrigues, é mais ou menos como um farol no mar. Ele não diz qual o caminho temos que seguir, apenas alerta para o perigo. Portanto, não cabe à Filosofia indicar a trajetória, mas sim elencar, assim como os faróis no mar, quais são os perigos à volta de um naufrágio de uma vida coletiva.

Por isso, a tradição filosófica traz algumas percepções possíveis nesse campo. Em um momento turbulento como o que vivemos, não podemos perder a ocasião para, de fato, depurar a nação daquilo que ela tem demais horroroso e também, de trazer à tona aquilo que temos de mais decente. Vivemos hoje uma efervescência cívica. De repente o conjunto da população começou a entender como pode funcionar, mesmo que não deva, uma parte dos mecanismos de poder seja ele econômico, político, cultural ou religioso. Nesse sentido é um aprendizado magnífico. A Filosofia diria para ouvirmos os nossos antigos trilhos de trem quando íamos cruzar uma estrada de ferro: Pare, Olhe, Escute! Nada de avaliações apressadas, de opiniões superficiais, nada de “partidarismos” antes de se ter uma clareza do que está acontecendo. Em última instância, seja inteligente!

As redes sociais, assim como qualquer ferramenta humana, têm duplo uso. Assim como agora o imbecil tem onde se manifestar em larga escala e como se juntar a outros imbecis, formando com isso grandes estruturas e congregações de imbecilidades com um grande poder de mentira, ela também produz os não imbecis, favorecendo imensamente a circulação de ideias e a organização de estruturas.



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